terça-feira, 20 de junho de 2017

O i-PHONE NÃO TEM FITA DE TINTA, por Vasco deOliveiraVentura


Cronista Sem Abrigo

"Onde se abrigam as crónicas sem abrigo." 

A conversa animada parou imediatamente, os jovens de menos de 20 anos detiveram-se e ficaram mudos a ouvir o quarentão que ria e disparava, entre duas garfadas: “não, eu não tenho computador, nunca tive”. “Hum? Aham? Mas… mas… mas… Não ter computador é como não ter meias?! Você não anda na rua sem meias, pois não?!”. “Bom, não, sem meias não, mas sem computador sim!”.


Instintivamente, devem ter-lhe vindo à memória os tempos de adolescente, em que o seu “computador” era uma máquina de escrever, da escola ou emprestada pelo melhor amigo, e em que redigia trabalhos escolares, disparates, tudo o que lhe vinha à cabeça. Tempos em que os primeiros computadores ainda estavam a chegar ao mercado europeu, e em que “jogar computador” era uma aventura repleta de imprevistos e de sons misteriosos (“bin brin bzzt bzzt tuun”), enquanto o dito jogo carregava.

Pensava nos computadores 48K, na linguagem de programação Basic e nas letras de imprensa a bater na folha de papel, deixando por lá as marcas de tinta mais ou menos indelével, as letras, as palavras, as frases, os sentimentos, as ideias…

No meio desta reflexão, começa a ouvir precisamente esse termo – “máquina de escrever” – e pensou que estava no sítio errado. Mas não, ouvia bem. Os jovens estudantes com quem almoçava falavam em máquinas de escrever, em trabalhos escritos em máquinas de escrever e entregues na faculdade, no que faziam quando se enganavam numa palavra ou tinham que substituir a fita de tinta da máquina… “Hum?”, perguntou à rapariga que estava ao seu lado. “Vocês usam máquinas de escrever?! Ahm, já estou a perceber, é uma cena ‘retro’, é como os discos de vinil, é isso, não é?”. “Sim”, respondeu a rapariga, “é isso!”.

Suspirou, sorriu e pensou que o mundo actual é um lugar estranho, às vezes difícil de perceber. Mas, se ainda há por aí máquinas de escrever a teclar e discos de vinil a rodar no prato, então nem tudo está perdido…!

inhttp://cronistasemabrigo.com/index.php/2016/05/03/o-i-phone-nao-tem-fita-de-tinta/


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