segunda-feira, 3 de julho de 2017

QUE VERGONHA, RAPAZES!, por Alexandre O'Neill


in, Pelo Humor de Deus!

Que vergonha, rapazes! Nós pràqui,
caídos na cerveja ou no uísque,
a enrolar a conversa no «diz que»
e a desnalgar a fêmea («Vist'? Viii!»).

Que miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é esta videirunha à portuguesa,
que às vezes me soergo no meu leito
e vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...
Mas logo desço à rua, encontro o Roque
(«O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!»)
e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:

Você nunca quis ver outros países?
- Bem queria, Snr. O'Neill! E... as varizes?


in, De Ombro na Ombreira (1969) reunido em Poesias Completas,  Assírio & Alvim, 5.ª ed., 2007, Lisboa, p. 272 



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